Vieses cognitivos: quando não
pensamos, podemos errar
O que você sabe sobre os vieses
cognitivos? Nós tomamos muitas decisões em nosso dia a dia. A maioria delas
rapidamente, quase sem pensar. A verdade é que raramente avaliamos as
consequências que cada uma das opções que temos em mente implicaria, no caso de
escolhê-las como uma solução.
Em outras ocasiões, especialmente
quando acreditamos que as decisões são importantes, avaliamos as informações
que temos para encontrar a melhor opção. No entanto, algo que dificilmente
levamos em consideração ao tomar decisões são os vieses cognitivos que
influenciam as soluções que nós imaginamos e damos. Esses vieses são perigosos
na medida em que podem nos levar a tomar decisões pouco realistas.
No entanto, os vieses cognitivos
e as heurísticas não são ruins. Poderíamos dizer que são espécies de atalhos
mentais (um tanto traiçoeiros às vezes). Nesse sentido, dizemos que são atalhos
porque os usamos para economizar recursos cognitivos (energia mental).
Por exemplo, se toda vez que eu
for a um bar, perder meia hora pensando em qual bebida será a mais apropriada,
avaliando cada um dos seus componentes separadamente e em conjunto, acabarei
cansando e desperdiçando o tempo que eu poderia investir em outras questões.
Portanto, as heurísticas e os vieses cognitivos tornarão o nosso pensamento
mais rápido, economizando recursos que usaremos em outras tarefas mais
importantes.
Duas formas de pensar
De acordo com Daniel Kahneman,
existem duas formas de pensar. Este autor coloca as duas formas de pensamento
em dois sistemas que ele chama de “pensar rápido” e “pensar lentamente”. O
primeiro sistema, pelo qual pensamos rápido, é automático. Este sistema
geralmente opera abaixo do nosso nível de consciência. As emoções influenciam
muito esse tipo de pensamento e, muitas vezes, levam a pensamentos
estereotipados. A sua função é gerar intuições que podem nos ajudar, mas também
nos trair.
O segundo sistema corresponde ao
pensamento lento. Esse tipo de pensamento é menos frequente e exige mais
esforço. Este pensamento ocorre de forma consciente, em oposição ao pensamento
rápido, lógico e calculista. A sua principal função é tomar as decisões finais,
depois de observar e controlar as intuições do pensamento rápido.
O primeiro sistema tende a ser
mais dominante. Por oposição, o segundo sistema tende a ser mais preguiçoso.
Normalmente, nos deixamos guiar pelo pensamento rápido. Uma tendência que pode
ter repercussões negativas, como chegar a conclusões precipitadas, exagerar o
efeito das primeiras impressões, confundir as relações com a causalidade e
confiar excessivamente nos dados que já conhecemos (sem levar em consideração
outros dados também disponíveis).
Heurísticas do pensamento
Uma heurística é considerada um
atalho para processos mentais ativos e, portanto, é uma medida que economiza os
recursos mentais. Uma vez que nossa capacidade cognitiva (mental) é limitada,
repartimos os recursos, dedicando uma quantidade maior a esses elementos que
precisam de um trabalho mental maior como as preocupações, atividades, pessoas,
etc.
Nós podemos caminhar sem prestar
atenção, mas se o caminho é acidentado e acreditamos que poderemos tropeçar e cair,
lhe atribuiremos mais recursos cognitivos, atenção e olhamos onde pisamos.
Entre as heurísticas existentes, algumas das mais importantes são:
Heurística de disponibilidade: é
usada para estimar a probabilidade da ocorrência de um evento, pois confiamos
nas informações anteriores que temos. As pessoas que assistem muita televisão,
dada a grande quantidade de violência que aparece, acreditam que são cometidos
muitos mais crimes violentos do que as pessoas que veem menos televisão.
Heurística de simulação: é a
tendência das pessoas de estimar a probabilidade de um evento com base na
facilidade com que podem imaginá-lo. Se é mais fácil de imaginar, é mais
provável que aconteça. Quando há um atentado, é mais fácil pensarmos que foi
cometido por jihadistas do que por grupos que atacam com menos frequência ou
cujo modo de agir seja diferente.
Heurística de ancoragem: usada
para esclarecer incertezas, tomando como referência um ponto de partida, a
âncora, que depois ajustamos para chegar à conclusão final. Se o meu time
venceu o campeonato no ano passado, pensarei que é mais provável que ganhe
novamente neste ano, embora em toda a sua história tenha ganhado apenas uma
vez.
Heurística de representatividade:
inferência sobre a probabilidade de que um estímulo (pessoa, ação, evento)
pertença a uma determinada categoria. Se um indivíduo tem sido um bom estudante
das disciplinas científicas e o encontrarmos daqui alguns anos vestindo um
jaleco branco, imaginaremos que ele é um cientista, não um açougueiro. Mas, na
realidade, não temos certeza.
Criança observando atentamente
Vieses cognitivos
Os vieses cognitivos são efeitos
psicológicos que distorcem os pensamentos. Assim como as heurísticas, os vieses
têm a função de economizar os recursos cognitivos. Embora eles possam nos levar
a erros que podem ser graves, em certos contextos nos levam a tomar decisões
mais rápidas e mais eficazes. Alguns dos vieses cognitivos mais conhecidos são
os seguintes:
Viés de confirmação: a tendência
de investigar ou interpretar informações que confirmem as ideias preconcebidas.
Se investirmos no mercado de ações, buscaremos opiniões na imprensa, nos blogs
e fóruns que confirmem as nossas ideias de investimento, ignorando os
comentários contrários. Da mesma forma, se comprarmos um carro, procuraremos os
artigos que destaquem as suas características positivas, obtendo assim um
reforço para a nossa decisão.
Viés do falso consenso: é a
tendência de acreditar que as próprias opiniões, crenças, valores e hábitos são
mais difundidos entre o restante da população do que realmente são. Se eu sou
contra a pena de morte, acredito que a maioria das pessoas no meu país também
pensam como eu.
O viés de correspondência: mais
conhecido como erro fundamental de atribuição. É a tendência de colocar ênfase
excessiva nas explicações, comportamentos ou experiências pessoais das outras
pessoas. Se um colega desiste de um teste que ambos fizeram para um determinado
curso, você provavelmente dirá que ele é preguiçoso e não está interessado em
estudar.
Viés de retrospectiva ou a
posteriori: é a inclinação para ver os eventos já passados como previsíveis.
Quando despedem um colega de trabalho, dizemos que já sabíamos o que
aconteceria porque a empresa não estava em um bom momento. No entanto, antes
dele ser demitido, não teríamos previsto.
Conhecer os vieses cognitivos e
as heurísticas nos tornará mais eficientes para tomar decisões. Embora sejam
difíceis de evitar, impossível às vezes, os vieses de pensamento podem ser
reduzidos a partir do conhecimento de como eles operam. Avaliar todas as
alternativas e procurar informações que apoiem e que contradigam as nossas
crenças iniciais é uma forma de reduzi-los. Além disso, evitar os vieses pode
tornar o nosso pensamento muito mais criativo.
Leandro Diehl
fonteraciocinioclinico.com.br