O Desapego e a Entrega
O que quer dizer entregar-se? Uma das frases que aprendemos
para progredir espiritualmente é: "Entregue-se nas mãos de Deus".
Muitas mulheres têm grande dificuldade com essa entrega.
"Não é que eu não acredite em Deus. É que tenho medo de
entregar-me nas mãos de Deus e Deus fazer do jeito 'errado', na hora 'errada',
com consequências 'erradas'." Esse é o nosso medo. Por isso, precisamos
controlar as pessoas e os fatos de nossas vidas para garantir que eles
funcionem do 'jeito certo' - o nosso jeito.
Quando nos entregamos, desafiamos as crenças e medos que
motivam nosso desejo de manter o controle. Entregar-se é uma forma consciente
de enviar uma mensagem para o universo: "Não tenho necessidades ou desejos
que não sejam atendidos. Não sou eu quem controla. É o universo que está no controle,
e isso é bom para mim." Pensando assim, você sente uma alegria, uma paz,
um bem-estar total. Você fez tudo o que podia e depois entregou-se, entregou o
seu desejo ao universo, sabendo que ele responderá com o que for melhor para
você. Quando você se entrega, cria a noção de que não precisa lutar ou sofrer.
Entregar-se dá à sua mente a oportunidade de relaxar e desapegar-se.
Em geral, nossas vontades são compulsivas e impulsivas. O
mundo nos bombardeia constantemente com mensagens sobre o que devíamos ter ou
fazer, e o que é preciso para levar uma vida rica e gratificante. Nossos
sentidos são permanentemente estimulados pelas visões e sons do mundo externo.
Como reação ao que vemos e ouvimos, passamos a acreditar que precisamos de uma
série de coisas. Precisamos de um carro. Precisamos de uma televisão em cada
quarto. Precisamos de um microondas. Precisamos de um bar. Esse bombardeio nos
faz sentir que, se não temos determinadas coisas, há algo "errado"
conosco. Tememos não possuir as coisas que, segundo acreditamos, dão sentido à
vida. Assim, nossa intenção não é satisfazer nossas necessidades mais
essenciais, mas satisfazer a cobiça dos sentidos estimulada pelo que a
sociedade nos impõe.
Entregar-se ajuda a curar o medo de querer e não ter. Quando
nos entregamos, passamos a desejar aquilo que Deus quer para nós. Quando nos
entregamos, substituímos o medo e o controle pela alegria e a paz. Começamos a
desejar coisas que vão nos dar alegria, paz e bem-estar profundos e nos
tornamos cada vez mais capazes de abandonar idéias, hábitos, pessoas e
situações que criam estresse, desequilíbrio, desarmonia e medo. Se você
consegue entregar-se e desapegar-se, permite que Deus dê o que você precisa.
Quando você guarda um segredo, desapegar-se ajuda a desarmar
as ilusões que você vinculou a ele. Desapegue-se da experiência que ficou
escondida. Desapegue-se do que pensa sobre ela. Desapegue-se do que os outros
vão pensar, se souberem.
Desapegue-se da dor, da vergonha, da culpa, da raiva
e, claro, do medo. Quando se desapegar e se entregar, peça ao seu espírito, a
Deus para revelarem a você o sentido daquela experiência. Peça uma palavra, uma
frase, uma inspiração que você possa usar para encontrar paz na experiência.
Por pior que você considere a experiência que viveu, ela contém uma lição.
Quando você se desapega do medo ligado à experiência, a lição é revelada.
Quando você compreende a lição, encontra a paz.
Uma vez, passei por um grave problema financeiro que me fez
duvidar de mim mesma e da qualidade do trabalho que tinha feito. Sentia medo de
estar errada. Não podia acreditar que, com dois livros vendendo muito bem, eu
não conseguisse pagar o aluguel. O telefone tinha sido desligado e eu não podia
comprar papel-alumínio parar forrar as assadeiras. Mas continuava aparecendo em
público e rezando para que me oferecessem um almoço, pois não tinha comida em
casa. Foi uma experiência muito humilhanete à qual sobrevivi aprendendo a
desapegar-me.
A primeira coisa de que você deve desapegar-se quando é uma
pessoa conhecida mas sem dinheiro é do seu ego. Você tem que decidir se vive a
verdade ou se vive o que deseja que os outros pensem a seu respeito. Nós,
mulheres, somos educadas para acreditar que nosso valor depende do que temos.
Se temos dinheiro, nos sentimos valorizadas e dignas. Usamos o dinheiro para
comprar coisas que confirmem tal conceito. Nossas roupas, carros, jóias e
bobagens não costumam ter nada a ver com o que realmente queremos e precisamos.
Eles apenas ajudam a fazer com que os outros pensem de nós o que queremos. À
medida que nossa coleção de "coisas" aumenta, ouvimos elogios e
comentários sobre como estamos bem. Mesmo quando não estamos tão bem, possuir
coisas nos dá a sensação de estarmos melhor. Sentimo-nos valorizadas.
Quando uma mulher tem problemas de dinheiro, ela de certa
forma interpreta essa falta como: "Não estou fazendo a coisa direito. Acho
que estou fracassando." Não queremos que os outros saibam da nossa
situação porque temos horror a críticas. Deixa-mos a barriga roncar de fome, em
vez de pedir para almoçar. Fingimos que estamos doentes e ficamos em casa, em
vez de dizer que não temos dinheiro para o ônibus.
Não queremos que os outros
pensem ou saibam que estamos precisando de alguma coisa, então sofremos em
silêncio, pensando: "Droga, onde vou arrumar dinheiro?" Não
percebemos que a crítica que tentamos evitar tão desesperadamente nasce e
cresce dentro de nossas próprias cabeças. As coisas que achamos que os outros
vão pensar ou dizer a nosso respeito são as que pensamos e dizemos para nós
mesmas.
Afundada na falta de dinheiro, eu me criticava pela coisas
que tinha feito e comprado quando tinha dinheiro. "Gastei demais! Não
precisava disso agora!" Além de estar sofrendo por não ter dinheiro, eu
estava me castigando e, como sempre, prometendo tomar mais cuidado da próxima
vez. O medo de estar errada aumenta as auto-acusações. Você se sente
imprestável, incapaz de satisfazer até seu menor desejo. Durante toda a
experiência, você procura esconder ao máximo dos outros o que está passando. Eu
me encolhia de medo ao pensar na pressão da opnião das pessoas. De repente,
tive um estalo. Esqueça o que eles acham! O que é que você acha?
Percebi que tinha esquecido quem eu era. Estava tão
preocupada com o que o mundo iria pensar de mim que perdi contato com o meu
"eu". Com ou sem dinheiro, sou filha de Deus. Meu valor não está no
dinheiro que tenho! Estou temporariamente falida, mas continuo com todos os
talentos, dons e capacidades com que nasci. Minha vida faz sentido. Eu tinha
que desapegar-me da nessecidade de ser valorizada pelos outros! Tinha que
encontrar valor em mim. Não era fácil. Era preciso abandonar os valores que me
ensinaram, mudar minha ótica, me entregar para aprender a lição. No meu caso,
eram várias lições.
Minha primeira lição era paz. O que eu precisava fazer para
ficar em paz com a situação? Desapegar-me e me entregar. Para encontrar a paz,
eu tinha de parar de me preocupar com o que os outros achavam de mim. Lição
seguinte: Confiar. Será que eu confiava mesmo que Deus iria me proteger e
cuidar de mim? Se confiava, tinha que perder o medo e a preocupação. Precisava
confiar que, no tempo divino, meu aluguel seria pago. Que todos os dias eu
teria o que comer. Tinha de confiar que o forno aguentaria alguns dias sem
papel-alumínio nas assadeiras. Eu estava fazendo o possível, Deus traria o
resto. Outra lição: Fé. Eu sabia que meus livros estavam vendendo bem e que
meus dois editores iriam me pagar os direitos autorais. Sabia que tinha feito
um bom trabalho e que ele valia a pena. Sabia também que não podia ter fé se
não tivesse paciência. Eu queria o dinheiro já. Queria na hora em que
precisava. Mas sabia que não é assim que a vida funciona. Tudo tem sua hora.
Desapegar-se e entregar-se. Para aceitar as lições, tinha
que me desapegar de cada pensamento , de cada emoção ligada ao meu medo de não
ter dinheiro. Tinha que me desapegar da minha crença sobre o que era segurança
financeira. Quando um pensamento ou sentimento surgia para me maltratar eu
dizia, o mais alto possível: "Eu me desapego e me entrego". Um vez
repeti essa frase inúmeras vezes durante vinte e quatro horas e as portas se
abriram. Recebi um cartão de crédito pelo correio. Com ele, pude alugar um
carro e ir a qualquer restaurante que quisesse. Comprei o papel-alumínio para o
fogão. Encontrei um estado de paz. Em paz, parei, olhei minha vida e entendi
que a lição final e mais importante era: nunca, jamais se deixe enganar pelo
que as coisas parecem ser na superfície.
Desapegar-se e entregar-se exige confiança. Exige paciência.
Exige obediência. O prêmio é aprender a agir sem medo em qualquer situação,
sabendo que você vai ter o que precisa e ser protegida. Durante seis dias
pratiquei desapegar-me e entregar-me. Você deve concentrar a sua mente para não
querer nada, não pedir nada, não ter medo de perder nada. Concentre sua mente
na alegria. Recolha alegria em todos os momentos, em todas as situações, em
todas as pessoas, porque ela sempre existe. Concentre sua mente na paz,
lembrando que aquilo em que você se concentrar vai aumentar. Com uma mente
concentrada em desapegar-se e entregar-se, você diminui sua necessidade das
coisas e das pessoas, você perde o medo e desenvolve a paciência, a confiança e
fé na ordem divina do universo.
Trecho do livro "Sei que vou sair dessa", Iyanla
Vanzant
http://portalarcoiris.ning.com/group/portalarcoiris/forum/topics/o-desapego-e-a-entrega
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