O Vitimismo e a Evolução Espiritual
Não se faça de vítima….
“Sou o patinho feio, ninguém cuida de mim”…….
O complexo de vítima – a mania de assumir, na vida, a
postura de mártir sofredor – é uma das mais insidiosas e destrutivas patologias
psicológicas. Os que caíram nas garras da autopiedade vão por aí, puxando a
carroça dos seus sofrimentos quase sempre imaginários – mas não por isso menos
reais – e provocando nos outros enfado e repulsa. Isso é muito triste, quando
se sabe que tudo o que eles querem é exatamente o contrário: ganhar carinho e
atenção.
O vitimismo é um poço de sentimentos negativos. Dele surge a
tendência para culpar os outros (o pai, a mãe, os irmãos, a sociedade, a vida,
o mundo, os maus fados, o destino) e fazer deles os responsáveis pelas nossas
próprias mazelas. Dele surgem as couraças de autodefesa que não nos permitem
relaxar e viver de modo saudável nossa relação com os outros e conosco mesmos.
Dele vem a impressão sempre absurda e impossível de que não precisamos mudar.
Os outros é que estão errados. Ele é a pior das cegueiras, pois destrói na
pessoa a autocrítica, o discernimento e a capacidade de avaliação racional das
situações.
Demônio de muitas faces, o vitimismo é mestre em matéria de
distorção da realidade. Parente próximo da tristeza, quando ele possui uma
pessoa coloca diante de seus olhos um filtro cinza e opaco que a impede de
apreciar – e se deleitar – com as cores do mundo.
O vitimismo é doença precoce. A análise transacional – uma
técnica de psicoterapia – ensina que uma criança, já nos primeiros anos de
vida, e a partir do seu contato cotidiano com os adultos, decide qual das
seguintes posições existenciais ela assumirá na vida:
Eu não estou ok, os outros estão.
Eu estou ok, os outros não estão.
Não estou ok, os outros também não.
Estou ok, os outros também estão.
Uma vez escolhida a posição, quando a criança cresce, ela
será dominante no seu caráter, enquanto as outras, embora podendo coexistir,
terão menor peso. Destaca-se que a atitude universal na primeira infância é a
da “eu não estou ok, os outros estão”. Assim sendo, a pessoa poderá permanecer
fixada nessa posição ou, segundo a educação recebida, passar a uma das outras
três. Explicando melhor:
– “Eu não estou ok, os outros estão.” Essa pessoa se sente
inferior aos outros e tenderá à depressão. Ela ainda permanece na mesma posição
da sua primeira infância.
– “Eu estou ok, os outros não.” É a pessoa que culpa os
outros pelas suas misérias. Essa posição costuma ser assumida pelas crianças
maltratadas com brutalidade, que concluem: “Quando estou sozinho, estou muito
bem. Não preciso de ninguém, deixem-me só.” Esta posição é, em geral, baseada
no ódio, mesmo quando ele está bem camuflado. Desse grupo fazem parte, com
freqüência, os delinqüentes, os fanáticos e os criminosos.
– “Eu não estou ok, os outros também não.” Essa pessoas não
sente nenhum interesse pela vida. É abúlica e depressiva. É uma posição
assumida por aqueles que não receberam suficiente calor e atenção nos primeiros
anos e escolhe os amigos, o cônjuge, esperando que ele seja propenso a
desempenhar o papel complementar.
NÃO SOMOS LIVRES como acreditamos ser. Quando se entende
isso, fica evidente que a maior parte dos nossos atos e pensamentos não é tão
livre de condicionamentos como gostamos de acreditar. Nossa certeza de sermos
livres, de fazermos tudo aquilo que queremos, e quando queremos, é quase sempre
uma ilusão. Quase todos, na verdade, carregamos dentro condicionamentos mais ou
menos ocultos que, com freqüência, tornam difícil a manifestação de uma
honestidade genuína, uma criatividade livre, uma intimidade simples e pura.
Posição existencial é, portanto, um papel que o indivíduo
tenderá a representar ao longo da sua vida. É preciso sublinhar o fato de que
todas as posições existenciais necessitam de pelo menos duas pessoas, cujos
papéis combinem entre si. O algoz, por exemplo, não pode continuar a sê-lo sem
ao menos uma vítima. A vítima procurará seu salvador e este último uma vítima
para salvar.
O condicionamento para o desempenho de um dos papéis é
bastante sorrateiro e trabalha de forma invisível. Esta é uma das causas
principais da falência de algumas amizades ou casamentos, quando as pessoas
interessadas não se ligaram a partir de uma simpatia genuína, mas sim com o
objetivo de encontrar na outra pessoa um sujeito adequado para desempenhar
algum papel complementar.
Se pararmos alguns instantes para considerar os casais que
conhecemos, não será difícil encontrar entre eles a “menina” que casou com o
“pai” (relação vítima-salvador) ou a mulher que se queixa continuamente do
marido, mas nem sequer admite a idéia do divórcio (relação vítima- algoz).
Observemos, então, como vivemos e como a nossa presença
influencia a vida daqueles que nos cercam. Somos sadios? Serenos? As pessoas ao
nosso redor apreciam a nossa presença? Nosso cônjuge nos admira? Ele fala bem
de nós? Nossos filhos nos consideram como amigos? Quantos amigos temos? Em
quantas portas podemos bater no caso de uma situação grave?
SE NÃO FORMOS serenos e não tivermos amigos, tentemos
considerar que, provavelmente, a nossa posição existencial e o papel que
desempenhamos não são os melhores possíveis. Com efeito, se o fossem, teríamos
serenidade, melhor saúde.
Fonte: Equipe da Revista Planeta.
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