Esgotamento mental não é frescura
Depois de andar para lá e para cá
o dia inteiro, trabalhar, ir à academia, fazer compras no mercado, seu corpo
está esgotado e precisa de um descanso. Seu cérebro também. Muitas vezes não
nos damos conta que, após um intenso trabalho intelectual, o cérebro também
fica “cansado”, e também precisa de um tempo para relaxar. Ignorar essa
necessidade pode causar uma série de problemas. No mundo moderno, em que uma
grande parcela da população trabalha em frente a um computador, e em que cada
vez mais se exige pensamento rápido, criatividade e empreendedorismo, é muito
fácil deixar o cérebro “cansado”. Além disso, muitas vezes exige-se que ele
trabalhe com energia total por períodos muito longos.
“Podemos dizer que o excesso de
demanda da química necessária para manter o corpo e a mente ativados se
‘esgotam’ em algum momento”, alerta Sergio Klepacz, psiquiatra do Hospital
Samaritano de São Paulo. Ele explica que essa química é composta por hormônios
e neurotransmissores como cortisol (um dos grandes responsáveis pela preparação
do organismo para os enfrentamentos dos desafios do dia a dia e das situações
de perigo) e noradrenalina (neurotransmissor responsável pela sensação de
motivação e também da atenção). “Vários estudos mostram queda nessas
substâncias durante esses períodos de estafa”, diz. Por isso, as consequências
mais imediatas são falta de atenção, dificuldade de memória, perda de
concentração, pensamento mais lento, desânimo, alterações no sono e, é claro,
cansaço – excessivo e crônico.
Às vezes o cansaço é tanto que é
sentido fisicamente, com dores no corpo, dores de cabeça e até problemas
gastrointestinais, como gastrites e úlceras. Por isso muitos pesquisadores
afirmam que o esgotamento mental pode ser até mesmo mais grave do que o físico,
pois pode causar danos tanto corporais como emocionais. Outro perigo é que
muitas vezes ele é ignorado; então o cansaço se acumula e as consequências se
agravam. Quando os primeiros sinais de alerta são ignorados, o problema vira
uma bola de neve e pode desencadear uma série de complicações. Os problemas que
mais surgem são o desenvolvimento de gastrites e úlceras, baixa da imunidade,
com resfriados e gripes constantes, alergias, queda de cabelo, hipertensão,
bronquite e alterações menstruais, entre outros.
Como essa química está atrelada
ao sistema imunológico, as consequências podem ser fisicamente relevantes, com
o aparecimento de quadros infecciosos que podem se agravar. “O esgotamento pode
levar ao aumento da suscetibilidade para doenças, como, por exemplo, as
cardiovasculares (hipertensão) e as autoimunes, tensão muscular, dor lombar ou
cervical e distúrbios do sono”, aponta a psiquiatra Telma Ramos Trigo, da
Associação Brasileira de Psiquiatria. Além dos estragos físicos, há também os
emocionais. A relação com o próprio trabalho pode ser prejudicada, pois a baixa
sensação de energia e a desatenção levam também à baixa produtividade e a
erros.
A relação com as pessoas também
pode ser prejudicada diante da falta de ânimo em interagir, da irritabilidade,
da impaciência e das mudanças bruscas de humor. O que pode fazer com que a
pessoa sinta-se sozinha, agoniada, ou até mesmo se isole. “Mentalmente, se não
houver intervenção, o quadro pode ter consequências no sistema emocional, com o
aparecimento de alterações de humor, tipo depressão, além de consequências em
longo prazo para o cérebro”, destaca Klepacz. Um dos problemas que podem decorrer
desse esgotamento mental é a síndrome deburnout, ou síndrome do esgotamento
profissional, que acontece quando o cérebro entra em processo de falência e não
consegue mais trabalhar direito.
Em inglês, o termo burnout é
definido como aquilo que deixou de funcionar por absoluta falta de energia.
Metaforicamente, é algo (ou alguém) que chegou ao seu limite, com grande
prejuízo em seu desempenho físico ou mental. Ela foi assim denominada por
psicanalista nova-iorquino, após constatá-la em si mesmo, no início dos anos
1970. A síndrome de burnout é um processo iniciado com excessivos e prolongados
níveis de estresse no trabalho – ou seja, é uma consequência de um processo
crônico. “A estafa ou esgotamento é o resultado de um estresse repetitivo e
prolongado. A partir de certo ponto, isso passa a diminuir a produtividade e
esgota nossa energia”, explica Trigo.
Um estudo da OMS (Organização
Mundial de Saúde) colocou o burnout como uma das principais doenças dos
europeus e norte-americanos, ao lado do diabetes e das doenças
cardiovasculares. Apesar de estar intimamente ligada à vida profissional, não
são só os trabalhadores que sofrem deste mal: estudantes e até desempregados
também podem ser acometidos pela síndrome devido a preocupações e nervosismo,
por exemplo. Para se tratar o esgotamento mental, recomenda-se o acompanhamento
de um especialista e, às vezes, medicação. “Em se tratando de esgotamento
puramente cerebral, parte-se para orientações sobre o manejo das situações
estressantes, avaliação da necessidade de medicamentos, orientações para
aumentar a resistência física do indivíduo e avaliação da necessidade de
psicoterapia”, aponta Trigo.
A psiquiatra enfatiza a
necessidade de buscar ajuda nesses casos. Segundo ela, muitas vezes a pessoa
com estafa mental ou síndrome de burnout tende a se isolar ao invés de pedir
ajuda, mas isso é fundamental para se resolver o problema. “Nosso cérebro é um
órgão como qualquer outro. Na verdade, talvez um pouco mais complexo devido a
trilhões de conexões. A grande questão é: por que ele não merece ajuda
especializada assim como os nossos outros órgãos?”, questiona. Na hora de se
tratar – e também de se evitar – o esgotamento mental, dormir bem e se
alimentar adequadamente é essencial. Mas ter horas de relaxamento e diversão
também. Muitas vezes as pessoas que sofrem com esses males investem muita
energia no trabalho em detrimento de outros aspectos da vida, como família,
amigos e lazer. Isso acaba causando um desequilíbrio que prejudica a qualidade
de vida e o bem-estar. Os especialistas afirmam que o lazer também é parte
importante do dia a dia e deve ser valorizado. “O segredo é poder compensar os
momentos de estresse com momentos de prazer e diversão”, recomenda Klepacz.
Por Revista Pazes - Maio 20, 2016
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