O Ciclo da Raiva
Como nos dizem os antigos sábios, os piores inimigos que
temos na Terra podem ser encontrados em nossa própria mente: desejo e raiva. Um
não está separado do outro.
Quando um desejo é frustrado, ele se transforma em raiva. E
junto de um desejo existe outro desejo, e desse modo continuamos alimentando a
raiva nesta cadeia infindável de desejos. A raiva surge de nossos desejos
insatisfeitos, de nossas mágoas, frustrações decepções e gera infelicidade.
O ódio e a raiva são considerados as maiores emoções
negativas ou aflitivas por serem os maiores obstáculos da bondade, da compaixão
e do altruísmo e também por destruírem nossas virtudes e nossa tranqüilidade
mental. Com a raiva perdemos os méritos de nossos bons pensamentos e de nossas
boas ações.
No grande poema épico indiano, Mahabharata é dito:
"Seis tipos de pessoas são tristes:
- Aquelas que têm inveja dos outros
- Aquelas que odeiam os outros
- Aquelas que estão descontentes
- Aquelas que vivem da fortuna dos outros
- Aquelas que são desconfiadas
- Aquelas que têm raiva"
Verdadeiramente, é a raiva que produz as outras cinco condições
que causam a tristeza. E esta raiva assume muitas formas, muitas facetas como:
aflição, ressentimento, contrariedade, mau humor, aspereza, animosidade,
explosões de raiva, ira, rancor, crises de choro e soluço. Muitas vezes, as
lágrimas não são sinais de fraqueza, mas a força da raiva.
A raiva envenena corpo e mente. Ataques de raiva e de mau
humor produzem danos sérios nas células do cérebro envenenam o sangue, causam
insônia, depressão e pânico; suprimem a secreção dos sucos gástricos e da bílis
nos canais digestivos, criando gastrites e úlceras, esgotam a energia e
vitalidade, causam problemas cardíacos, provocam velhice prematura e encurtam a
vida.
Quando você se zanga sua mente fica perturbada e isto
reflete em seu corpo que sente distúrbios. Todo o sistema nervoso se agita e
você se enerva, perdendo a harmonia, a eficiência de agir, o vigor e o
entusiasmo. A raiva é uma energia poderosa que precisa ser dissolvida para que
você possa ser mais livre e saudável.
É muito importante saber que ninguém provoca raiva em você,
que ela é criada por você. Já existe em você acumulada desde a infância... De
repente, isto é acionado por alguma palavra ou por alguma ação de alguém e você
experimenta uma raiva, às vezes inapropriada, sem motivo. Se não temos controle
sobre nossa mente que vagueia a todo instante, perdemos o controle e, a raiva
brota muito forte de nosso interior, nos destruindo e magoando.
Geralmente esta raiva começa quando somos crianças. Quando
não conseguíamos o que desejávamos, ficávamos zangados e nossos pais faziam o
que queríamos. Assim aprendemos que podíamos ficar zangados porque isto
funcionava para alcançar nossos desejos. Em Psicanálise chama-se de recalque e
operacionalização.
Muitas vezes, as pessoas falam o que não querem, são dominadas
pela raiva e explodem causando inimizades, mágoas e conflitos. E depois dizem:
"Perdi a cabeça! Não tenho controle sobre minha mente ou emoções! Mas o
que posso fazer? Eu sou assim mesmo. Não vou mudar!"
Porém, elas precisam entender que estão prisioneiras de
camadas densas e sólidas de raiva e de desejos insatisfeitos. Se não
despertarem para a necessidade urgente de começar a fazer algo a respeito, elas
vão viver em total infelicidade, no meio de suas próprias negatividades. Isto é
viver em um verdadeiro inferno interior.
Colocar a raiva para fora apenas agrava esta emoção negativa
e a faz crescer ainda mais. Se deixarmos isto sem controle, expressando nossa
raiva cada vez mais, ela não vai se reduzir e sim aumentar, gerando mais dor e
inquietude para nós.
Pare o ciclo da raiva. Na Bhagavad Gita, o Senhor Krishna
diz:
"Ó Arjuna, deixe de pensar em seus inimigos externos.
Em vez disto, conquiste seus inimigos internos".
Os ensinamentos dizem que precisamos observar a raiva,
analisá-la; aprender a lidar com ela e a dissolvê-la através da contemplação e
da meditação. Pratique a meditação e perceba seus efeitos. Sinta o
apaziguamento. Perceba como sua mente se torna pacífica e serena e como isto
lhe apóia durante o seu dia.
Contemple, sem julgamento e culpa, os fatores que deram
origem à manifestação da raiva, aprendendo a se conhecer melhor. É importante
reconhecer os erros para corrigi-los e agir melhor no futuro. Peça desculpas,
treinando a humildade, que é a virtude das pessoas fortes e corajosas.
Compreenda que ninguém é perfeito. Cada um de nós fez algo de errado. É da
condição humana. E vamos continuar errando. O importante é aprender com nossos
erros sem a atitude de censura ou crítica excessiva por nós mesmos, pois esta
autopunição é fonte de sofrimento para nós. E quando vamos entendendo isto, nos
tornamos mais tolerantes com as falhas das outras pessoas e sentimos menos
raiva.
Liberte-se do sentimento de culpa, porque se você se culpa
você alimenta ainda mais a sua raiva e se torna prisioneiro deste ciclo
vicioso. A culpa gera mais baixa-estima e você cai na armadilha do ego e, como
conseqüência passa a ser mais limitado, amargurado, infeliz. Este é o estado de
escravidão do ego que nos faz sentir pequenos, inferiores.
Baba Muktananda, em seu livro Encontrei a vida, nos conta
que certa vez perguntaram à grande santa Rabi'a: "- Você alguma vez sente
raiva? - Sim - replicou ela -, mas só quando me esqueço de Deus." Contemple
essas palavras e compreenda que ao lembrar-se de Deus, ao desenvolver virtudes
divinas, não haverá espaço para a raiva em seu interior e assim, você poderá
ser mais livre e feliz.
Por Rubia Prado Carvalho
Referências bibliográficas:
Meu Senhor ama um coração puro
Chidvilasananda
Siddha Yoga Dham Brasil
Fonte:
http://www.equilibriointerior.net/index2.php?id=24
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