‘
A saúde é o espelho do que pensamos’– Deepak Chopra
O famoso médico indiano afirma que os pensamentos interferem
na maneira como o organismo funciona e defende que o melhor caminho para uma
vida saudável é saber ouvir o próprio corpo
Antes de perguntar ao médico o que fazer para viver mais e
com melhor qualidade de vida, faça essa pergunta ao seu próprio corpo.
Descobrir como ele se sente antes da tomada de decisões é um dos segredos para
conseguir adotar hábitos saudáveis e chegar a um estado de perfeita saúde. Essa
é uma das principais posições do médico indiano Deepak Chopra, 65 anos, autor
de livros como “As Sete Leis Espirituais do Sucesso” e “Conexão Saúde” e
admirado por celebridades como a cantora Madonna e a apresentadora Oprah
Winfrey.
O endocrinologista radicado nos Estados Unidos usa como base
de seus tratamentos os princípios da medicina ayurvédica, criada há mais de
cinco mil anos na Índia. Ela preconiza a prevenção das doenças por meio de uma
sintonia entre o corpo e a mente que poderia ser obtida, por exemplo, com a
prática da ioga e da meditação.
Em sua clínica na Califórnia, no entanto, o médico também se
utiliza dos instrumentos da medicina ocidental quando acha necessário. É, por
excelência, um defensor da medicina integrativa, uma corrente cada vez mais
forte que prega a união entre os conhecimentos da medicina praticada no
Ocidente com os recursos oferecidos por terapias como a acupuntura. “É preciso
caminhar para uma integração de tratamentos”, defende.
Embora o sr. tenha nascido na Índia, aprendeu a meditar em
Boston, nos Estados Unidos. Também foi médico em tempo integral em um hospital
de Massachusetts. Como foi sua transição da medicina convencional para a
ayurvédica?
Por meio da meditação, percebi que havia muitos mecanismos
que a medicina não explicava porque olhava na direção errada. Ela, às vezes de
modo eficaz, se concentra em um estado de doença, e não de saúde. Mas cheguei à
conclusão de que a experiência da Ayurveda é simples, integrada. É um caminho de
volta para o pleno funcionamento biológico.
Mas seus princípios podem ser aplicados hoje, para o homem
ocidental, com os mesmos efeitos?
Não só podem como estão sendo usados para isso. Os meus
pacientes seguem as recomendações, são capazes de analisar a própria vida,
ouvir o próprio corpo, controlar a hipertensão, a diabetes. Eles aprendem a
prestar atenção no funcionamento do organismo. E hoje temos aparelhos de
biofeedback que dão uma medida do quanto um pensamento e uma atitude podem
determinar uma resposta fisiológica e controlar uma doença. Essa tecnologia
comprova o que o corpo já sabia e que pode ser percebido em um estado de
atenção.
De que maneira isso melhora a saúde?
A saúde é o espelho da nossa consciência, do que pensamos.
Atualmente, estudos comprovam que pensamentos geram respostas fisiológicas
correspondentes, que podem ser positivas ou negativas. Cada estado de humor
fica impresso em nossas células. Mas temos a capacidade de controlar algumas
reações do organismo por meio do domínio dos pensamentos.
Como fazer isso?
Pode-se voltar a atenção para si mesmo, pensar na qualidade
dos relacionamentos, questionar o próprio corpo e relacionar o bem-estar com as
escolhas diárias. Tudo isso não é feito de uma maneira estritamente racional,
mas com o pensamento que passa pela intuição do organismo sobre o que é a saúde
ou simplesmente nos perguntando se estamos bem ou não.
O que significa não pensar de uma maneira racional? O que é
esse pensamento? Intuitivo?
É um processo que nos livra dos condicionamentos. É preciso
alguma inocência para ouvir o corpo.
Uma técnica descrita em um dos seus livros para auxiliar a
prática de uma vida saudável é justamente perguntar ao corpo, antes de uma
tomada de decisão, se ele se sente confortável com aquela escolha. De que modo
isso é benéfico?
A resposta de conforto é uma medida do que nos é caro, do
que nos é saudável, do que irá produzir uma sensação de bem-estar. Ela nos
livra da dúvida, de um peso e nos coloca na direção da saúde.
Para o tratamento de muitas doenças crônicas, como a
diabetes e a hipertensão, os médicos frisam a importância de adotar hábitos
mais saudáveis. Mas muitos não conseguem. O que poderia ajudá-los?
Posso dar alguns mecanismos: atenção, repetição, foco no
presente e o entendimento de que o novo hábito a ser instaurado é bom. Quando
ele se instaura, a consciência consegue encontrar um canal para se sentir bem.
Sem o hábito, o corpo se esforça para atender a consciência e, numa mente
voltada para o cigarro e o álcool, por exemplo, vai se flexibilizar ao máximo
até chegar à exaustão, dando espaço a doenças.
Qual a sua opinião sobre a medicina ocidental?
Há muitos tratamentos válidos que ajudam o corpo físico a
combater uma enfermidade já instaurada, mas eles obtêm comprovadamente mais
sucesso quando integrados a outras terapias. É preciso caminhar para uma
integração de terapias. O problema é que algumas vezes a ciência do Ocidente se
pauta em modelos reducionistas e a natureza não funciona dessa maneira. É
preciso entender quando há outros mecanismos relacionados que, de algum modo,
também podem intervir no processo de uma cura. É o que a medicina integrativa,
na tentativa de unir essas terapias, está querendo mudar.
Pode citar exemplos de comprovação científica de bons resultados
dessa integração?
Um estudo publicado na revista científica “The Lancet
Oncology” mostrou que técnicas de meditação e ioga podem aumentar a quantidade
de telomerase, enzima associada à proteção contra o envelhecimento precoce. Ela
é responsável pelo aumento do comprimento dos telômeros, estruturas presentes
nos extremos dos cromossomos cujo encurtamento está ligado ao envelhecimento e
ao surgimento de males como o câncer. Em um outro extremo, uma pesquisa
divulgada no “The New England Journal of Medicine” mostrou que a cirurgia de
ponte de safena feita apenas como um recurso de prevenção em pacientes estáveis
só conseguiu aumentar a expectativa de vida em 3% dos indivíduos que passaram
pelo procedimento.
Qual seria o tratamento indicado para doenças crônicas?
Hoje, sabe-se que 95% dessas enfermidades são motivadas por
fatores que envolvem um estresse sobre o organismo. A medicina ocidental é
capaz de dar uma resposta positiva imediata para médicos e pacientes com drogas
e tratamentos comprovadamente capazes de reduzir um tumor, por exemplo. Essa
intervenção mais urgente é necessária em alguns casos, mas em outros ela é
dispensável porque é preciso fazer uma análise mais profunda sobre as origens
da doença e ter uma atitude de cura, de saúde, com alimentação adequada e bons
relacionamentos.
No seu livro “Cura Quântica”, o sr. descreve o caso de uma
paciente com câncer de mama que acabou curada submetendo-se à quimioterapia e
às técnicas da medicina ayurvédica. E, embora o câncer dela tenha tido remissão,
ela continuou com a quimioterapia. Por que isso aconteceu?
As pessoas tomam decisões baseadas naquilo que confiam, no
que acreditam ser válido para a situação que enfrentam. É uma avaliação
difícil. Eu faria uma análise diferente.
O sr. não teme que seus pacientes deixem de seguir os
tratamentos convencionais, abandonando os remédios, por exemplo?
Não é essa a minha orientação.
Em “As Leis Espirituais do Sucesso”, o sr. descreve a
necessidade de não darmos importância aos resultados. Este seria o caminho para
que eles, os resultados, de fato sejam obtidos. Pode explicar isso?
É o que chamo de lei do desprendimento. O desprendimento dá
espaço para a fé enquanto o apego aos resultados abre caminho ao medo e à
insegurança. Quando você se prende ao resultado, opta por um símbolo que limita
a natureza. A ordem natural tem uma ação que vai muito além de variáveis usadas
para quantificar o efeito de um tratamento, por exemplo. O desprendimento dá
espaço para uma busca profunda pelo bem-estar.
Hoje a medicina sabe sobre o peso das emoções na nossa
saúde. Mas, de alguma maneira, não estamos conseguindo chegar a uma vida sem
estresse. Onde estamos falhando?
É um caminho que cada um precisa trilhar, questionar de que
modo algumas escolhas se refletem na saúde. Há pessoas conseguindo fazer isso
com muito sucesso.
Para alguns de seus pacientes que sofrem de insônia, o sr.
recomenda, como tratamento, permanecer acordado de 48 a 56 horas. Como isso
funciona?
Essas pessoas estão em desequilíbrio biológico. Ficar em
vigília por mais tempo comprovadamente renova o organismo e proporciona um
recomeço.
Deepak Chopra nasceu no ano de 1947 em Nova Deli, na Índia.
Graduado em Medicina pela Universidade de Nova Deli, Chopra também escreve
sobre espiritualidade e medicina corpo–mente, tema conhecido como ayurveda. O
escritor é especialista em endocrinologia e exerce a profissão desde 1971.
Chefiou a equipe do New England Memorial Hospital, nos Estados Unidos e, em
1985, fundou a Associação Americana de Medicina Védica. Deepak Chopra escreveu
mais de 25 livros de “autoajuda”, como A Cura Quântica, As Sete Leis
Espirituais do Sucesso e Criando Saúde, traduzidos em 35 idiomas. A Revista
Time incluiu o autor na lista das 100 personalidades do século, considerando
Deepak Chopra “o poeta e profeta das medicinas alternativas”.
Via Revista Prosa, Verso e Arte – Originalmente publicado por Istoé
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