Entenda o real significado da criança interior
A criança interior vive dentro de
nós
"Em todo adulto espreita uma
criança - uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está
completo, e que solicita, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da
personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa"
Carl Gustav Jung psquiatra suiço
(1875-1961)
Muito se fala sobre a criança
interior, mas nem sempre conseguimos entender seu verdadeiro significado e toda
a transformação possível através do reencontro com a mesma.
Solicito que ao ler, o leitor
utilize suas faculdades intuitivas, mais do que as analíticas. Não pense que
criança interior é aquela que veio do interior ou seus filhos, mas sim aquela
que vive dentro de nós. Acredito que os conceitos da teoria de Carl Gustav Jung
se fazem necessários para uma maior compreensão do referencial teórico
utilizado, onde alguns serão descritos ao final de cada artigo.
Começaremos com o *arquétipo da
criança, que poderíamos chamar de a "grande" imagem da criança
interior, uma vez que ela é a criança que todos nós contemos, não só como parte
de nós, mas também como uma forma codificada da vivência coletiva que a
humanidade tem com relação à criança.
A promessa que essa criança
representa está dentro de nós, em nossas origens e esperanças. O aspecto divino
da criança interior que habita em todos nós é uma fonte que, quando percebida
conscientemente, pode nos oferecer coragem, entusiasmo e, principalmente, cura.
Ela é divinamente inspirada, irradiando luz para quem a encontra e iluminando
nossa **sombra.
É importante salientar que a
criança divina se distingue da criança interior formada a partir da memória das
vivências pessoais, ou seja, a criança negligenciada, vítima de abuso, não
amada, exageradamente disciplinada, excessivamente criticada, cobrada e
humilhada, assim como os aspectos vulneráveis e carentes da criança que fomos
um dia. É a criança de nossas vivências e que todos nós desejamos curar para
podermos recuperar a energia que ainda resiste em forma de defesa, que acabamos
por desenvolver para nos proteger das primeiras experiências sofridas.
As defesas podem ser muitas como
forma inconsciente de fugir do que um dia sentiu, seja através da fuga pelo
álcool, comida, drogas, sexo, poder, dinheiro, enfim, é a busca pelo externo
com o intuito de não sentir o que está dentro. A criança divina é um símbolo de
transformação, o qual é portador da cura, daquilo que torna inteiro. Curar essa
criança interior através da criança divina significa uma das tarefas mais
sagradas e também nos possibilita não continuarmos mantendo inconscientemente
alguns padrões com nossos próprios filhos nem com nós mesmos.
Independente do histórico de vida
de cada um, torna-se imprescindível o entendimento dessa teoria para quem está
em busca do seu verdadeiro 'eu', o self , pois sempre parece nos faltar algo à
nossa infância de verdade.
Infância ideal e infância real
Em geral, levamos dentro de nós
uma imagem da infância ideal, daquela em que o acolhimento e demonstrações de
amor foram perfeitos. Essa imagem muitas vezes poderá ser projetada nos outros
e lamentando-nos por um ideal, idealizamos relacionamentos e aumentamos nossa
solidão e dor. Por trás dessas imagens da infância real e da infância ideal
está a imagem da criança interior divina, que brota da camada arquetípica mais
profunda de nosso ser.
A criança interior divina tem a
inocência, a espontaneidade e o anseio profundo da alma humana por expandir-se
e crescer. Às vezes, essa criança interior faz exigências muito intensas,
apresentando-se por emoções, ansiedade, depressão, raiva, conflito, vazio,
solidão, ou sintomas físicos. A força vital e natural desse arquétipo quer o
nosso reconhecimento e ao ser ignorada pode acarretar sérias consequências
quando adulto. Quando não fomos devidamente valorizados quando crianças,
diminuímos o valor da criança interior e assim mantemos as vivências de nossa
infância e seu sofrimento.
Para encontrar essa criança
abandonada o mais indicado é através do processo analítico, ou seja, da
psicoterapia com base no inconsciente, amparando essa criança e compreendendo
seus sentimentos, pois a cura só acontece quando lamentamos nossos sentimentos
mais íntimos. Assim, desenvolvemos ***a função transcendente, que nos conduz à
revelação do essencial no homem. No início não passa de um processo natural.
Jung deu a esse processo o nome de ****processo de individuação, o qual parte
do pressuposto de que o homem é capaz de atingir sua totalidade, isto é, de que
pode curar-se.
E essa cura pode muitas vezes ser
obtida quando se encontra essa criança, muitas vezes abandonada, mas que nem
sempre conseguimos reconhecer sua existência, principalmente pelo fato da
resistência e máscaras que vamos desenvolvendo no decorrer da vida e que nos
distancia de nosso verdadeiro eu.
O primeiro passo no processo de
individuação é explorar a persona (máscara), pois embora tenha funções
protetoras importantes, ela é também uma máscara que esconde o self, nosso
verdadeiro eu, o inconsciente e tudo que ele contêm.
*Arquétipo: conteúdos do
inconsciente coletivo.
**Sombra: tudo aquilo que não
percebemos e não aceitamos, e que gostaríamos de não ver. Parte obscura e
inconsciente.
por Rosemeire Zago
Psicóloga com abordagem junguiana
com especialização em psicossomática. Desenvolve uma abordagem voltada para o
autoconhecimento e criança interior.
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