Ficar sem dormir diminui
imunidade
Efeitos da falta de sono
A importância do sono para o bom
funcionamento do sistema imunológico é conhecida, mas pouco se sabe sobre os
mecanismos fisiológicos envolvidos - como o sono altera o funcionamento do
corpo.
Uma pesquisa brasileira vem
ajudando a elucidar essa questão, mostrando como diferentes tipos de privação
de sono interferem nas defesas do organismo.
Na primeira fase da pesquisa,
para replicar situações do dia-a-dia, os pesquisadores submeteram voluntários à
privação total por 48 horas - algo que ocorre com pessoas que trabalham em
sistema de plantão noturno.
Outro experimento envolveu a
privação seletiva de sono REM - movimento rápido de olhos, na sigla em inglês),
fase do sono em que prevalecem os sonhos - por quatro noites seguidas.
Chacoalhadas
"O objetivo [...] foi
avaliar a alteração no perfil imunológico dos voluntários causada pela falta de
sono. Para isso, realizamos leucograma - exame que mede a quantidade de
leucócitos no sangue - antes e depois do experimento", disse Francieli
Ruiz da Silva, autora principal do estudo, feito na Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp).
Ao longo de uma semana, 30
voluntários saudáveis, entre 18 e 30 anos, permaneceram no laboratório
distribuídos em três grupos. Aqueles do grupo controle dormiram normalmente e
tiveram seu padrão de sono monitorado por meio do exame de polissonografia.
Os integrantes do grupo submetido
à privação seletiva também tiveram o sono monitorado e foram acordados por uma
campainha toda vez que o exame indicava a aproximação da fase REM.
"A primeira noite foi
tranquila, mas à medida que a demanda do organismo por sono REM foi se acumulando,
foi ficando difícil. Esse estágio aparecia cada vez mais cedo, efeito conhecido
como rebote de sono REM. Na quarta noite, eles mal cochilavam e já entravam na
fase REM", contou Francieli.
Já o grupo da privação total
manteve-se alerta por 48 horas com a ajuda de videogames, jogos de cartas,
internet e eventuais chacoalhadas.
Nas três noites seguintes,
dormiram normalmente e foram monitorados pela polissonografia para registrar o
efeito rebote de sono.
Efeitos no perfil imunológico
Enquanto o grupo controle não
apresentou alteração no perfil imunológico, como esperado, os voluntários do
grupo submetido à privação total tiveram uma elevação no número de leucócitos,
especificamente de neutrófilos, o primeiro tipo celular que responde à maioria das
infecções.
Também houve aumento de
linfócitos T CD4, responsáveis pela imunidade adaptativa, específica para cada
doença.
"Considerando que os
leucócitos desempenham a função de defesa ao primeiro sinal de invasão por
patógenos, observamos que a privação total de sono desencadeou um sinal de
alerta no organismo. Ele entendeu como uma agressão e respondeu a um
fantasma", disse Francieli.
Essa alteração foi revertida após
as primeiras 24 horas de recuperação do sono. "Mas, para nossa surpresa, o
número de linfócitos não voltou ao normal após as três noites de
recuperação", contou.
No grupo privado de sono REM, foi
observada uma diminuição da imunoglobulina A (IgA) circulante no sangue durante
todo o período do experimento. Esse efeito permaneceu após as três noites de
recuperação do sono.
"Essa imunoglobulina,
presente na secreção de mucosas, está diretamente relacionada à proteção contra
a invasão por patógenos. Isso poderia explicar por que a privação de sono REM
poderia estar relacionada a uma maior suscetibilidade a doenças como gripes e
resfriados já descrita na literatura", disse.
fonte: Diário da Saude
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