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sábado, 7 de janeiro de 2017

OS CAMINHOS DE ABERTURA DO SER INTERIOR

Em sua tentativa de começar a abrir o ser interior, a Natureza seguiu quatro linhas principais — religião, ocultismo, pensamento espiritual e uma realização e experiência espiritual interior.

Há quatro linhas principais que a Natureza seguiu em sua tentativa de começar a abrir o ser interior — religião, ocultismo, pensamento espiritual e uma realização e experiência espiritual interior: as três primeiras são aproximações, a última é a avenida decisiva de entrada. Todos estes quatro poderes trabalharam em ação simultânea, mais ou menos relacionados, às vezes em colaboração variável, às vezes em mútua disputa, às vezes em sua independência isolada. A religião admitiu um elemento oculto em seu ritual, cerimônia e sacramento; ela se debruçou sobre o pensamento espiritual de apoio — o primeiro é ordinariamente o método ocidental, o último o oriental: mas a experiência espiritual é o objetivo e a consecução final da religião, seu céu e ápice.

 Cada um desses meios ou aproximações corresponde a algo em nosso ser total, e portanto a algo necessário ao objetivo total de sua evolução. Há quatro necessidades de auto-expressão do homem, para ele não permanecer este ser da ignorância de superfície, procurando obscuramente a verdade das coisas, coletando e sistematizando fragmentos e secções de conhecimento, a pequena criatura limitada e semi competente da Força cósmica, que ele é agora em sua natureza fenômenica. Ele deve conhecer-se, descobrir e utilizar todas as suas potencialidades: mas para conhecer a si próprio e ao mundo completamente, ele tem que ir atrás de si mesmo e de seu exterior, tem que mergulhar fundo, abaixo de sua própria superfície mental e da superfície física da Natureza. Isto ele só pode fazer conhecendo seu ser mental, vital, físico e psíquico interior e seus poderes e movimentos, e as leis e processos universais da mente e Vida ocultas que estão atrás da fronte material do universo: este é o campo do ocultismo, se tomarmos a palavra em sua significação mais ampla. Ele deve também conhecer o Poder ou Poderes escondidos que controlam o mundo: se existe um Si Cósmico ou Espírito ou um Criador, ele deve ser capaz de entrar em relação com Ele ou com Isto, e ser capaz de se manter em qualquer contato ou comunhão possível, entrar em algum tipo de sintonização com Seres mestres do universo, ou com o Ser universal e sua vontade universal, ou com um Ser supremo e Sua suprema vontade, seguir a lei que Ele lhe dá e o objetivo assinalado ou revelado de sua vida e conduta, erguer-se em direção à maior altura que Ele lhe exige em sua vida de agora ou em sua existência posterior; se não existe um tal Espírito ou Ser universal ou supremo, o homem deve saber o que existe e como erguer-se até isso, saindo de sua presente imperfeição e impotência. Esta aproximação é o objetivo da religião: seu propósito é ligar o humano com o Divino, e com isso sublimar o pensamento e a vida e a carne, de modo que eles possam admitir o governo da alma e do espírito. Mas este conhecimento deve ser algo mais do que um credo ou uma revelação mística; a mente pensante do homem deve ser capaz de aceitá-lo, de correlacioná-lo com o princípio das coisas e a verdade observada do universo: este é o trabalho da filosofia, e no campo da verdade do espírito ele só pode ser feito por uma filosofia espiritual, seja intelectual em seu método ou intuitiva. Mas todo conhecimento e esforço só pode alcançar sua fruição se convertido em experiência e se chegou a ser parte integrante da consciência e de suas operações estabelecidas; no campo espiritual, todo esse esforço e conhecimento religioso, oculto ou filosófico, deve, para ser fecundo, terminar num abrir da consciência espiritual, em experiências que fundamentam e continuamente elevam, expandem e enriquecem esta consciência, e na edificação de uma vida e ação que está em conformidade com a verdade do espírito: este é o trabalho da realização e experiência espiritual. (1)

Somente a realização e experiência espiritual pode consumar a mudança do ser mental em um ser espiritual

Mas nenhuma destas três [primeiras] linhas de aproximação pode, por si mesma, cumprir inteiramente a intenção maior e ulterior da Natureza; elas não podem criar no homem mental o ser espiritual, a não ser, e não antes, que elas abram a porta para a experiência espiritual. É somente por uma realização interior daquilo que estas aproximações estão buscando ou por uma experiência decisiva ou por muitas experiências que edifiquem uma mudança interior, por uma transmutação de consciência, por uma libertação do espírito de seu atual véu da mente, vida e corpo, que, então, o ser espiritual pode emergir.   Esta é a linha final do progresso da alma, rumo à qual as outras estão apontadas, e quando ela está pronta para desprender-se das aproximações preliminares, então o trabalho real começou e o ponto decisivo da mudança não está mais longe. Até então, tudo o que o ser humano mental alcançou foi a familiaridade com a ideia das coisas que estão além dele, com a possibilidade de um movimento de um outro mundo, com o ideal de uma perfeição ética; ele pode também ter estabelecido algum contato com Poderes ou Realidades maiores que ajudam sua mente ou coração ou vida. Pode haver uma mudança aí, mas não a transmutação do ser mental no espiritual. A religião, seu pensamento e ética e oculto misticismo, produziu nos tempos antigos o sacerdote e o mago, o homem da piedade, o homem justo, o homem da sabedoria, muitos pontos altos da humanidade mental; mas — só depois que a experiência espiritual através do coração e da mente começou, que nós vemos surgirem o santo, o profeta, o Rishi, o Yogue, o vidente, o sábio espiritual e o místico, e são as religiões em que nasceram estes tipos do estágio humano de espiritualização as que duraram, cobriram o globo e deram à humanidade toda a sua aspiração e culturas espirituais.

O último ou mais alto estágio é o homem liberto que realizou o Si e Espírito dentro dele, entrou na consciência cósmica, atingiu a união com o Eterno e, até onde ele aceita ainda a vida e a ação, age, pela luz e energia do Poder dentro dele trabalhando através de seus instrumentos humanos da Natureza. A mais ampla formulação desta mudança e consecução espiritual é uma libertação total da alma, mente, coração e ação, um lançá-los todos para dentro do sentido do Si cósmico e da Realidade Divina. Foi então que a evolução espiritual do indivíduo achou seu caminho e arrojou para o alto seu pleno alcance de eminência himalaiana e seus cumes da mais alta natureza. Para além desta altura e amplidão abre-se somente a ascensão supramental ou Transcendência incomunicável. (2)
Sri Aurobindo - The Life Divive 

http://pereneconsciencia.blogspot.com.br/

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